Nova proposta amplia debate sobre o uso da gasolina E30, que entrou em vigor este ano; carros a gasolina podem ser os mais afetados
O aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, atualmente em 30%, pode subir novamente. A proposta foi defendida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), durante a 25ª Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Etanol, realizada em São Paulo nesta segunda-feira (20).
Segundo Motta, o objetivo é avançar “para 35% de etanol na gasolina”, reforçando o compromisso do país com os biocombustíveis e a descarbonização previstos no Programa Mover, lançado pelo governo federal.
A ideia reacende o debate iniciado em agosto, quando o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) elevou a mistura de 27% para 30%, criando a chamada gasolina E30. A justificativa oficial foi ambiental e econômica, mas especialistas questionam os impactos técnicos e mecânicos da mudança.
Especialistas apontam falhas nos testes
De acordo com o especialista mecânico e jornalista Gerson Borini, ouvido pelo podcast Auto+ #104, os testes realizados pelo Instituto Mauá para validar a gasolina E30 foram apressados e sem metodologia adequada.
“Eles não fizeram um comparativo com a gasolina E27, apenas testaram a E30. Houve carros que falharam na partida e durante a condução, e os resultados foram descartados sob justificativa de uso intenso dos veículos”, afirma Borini.
O especialista explicou que o processo de calibração de um motor costuma levar 12 a 24 meses, pois precisa ser testado em condições climáticas distintas, como verão e inverno. No caso da E30, os testes duraram apenas três meses, sem a validação adequada de durabilidade e comportamento do combustível em baixas temperaturas.
“Chegaram a testar partida a frio dentro de um contêiner refrigerado, em São Bernardo do Campo, com temperatura externa de 35 °C. Isso foge completamente do padrão técnico”, complementou.
O que pode acontecer com o seu carro
Segundo Borini, os veículos flex devem se adaptar sem grandes problemas, pois já são projetados para trabalhar com proporções variáveis de gasolina e etanol.
O risco maior está nos carros exclusivamente a gasolina, especialmente os importados e mais antigos, cujas calibrações não suportam misturas tão altas de etanol.
O etanol anidro tem características distintas da gasolina:
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É mais corrosivo e absorve mais umidade, podendo causar oxidação de peças metálicas e danos no sistema de injeção;
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Possui ponto de combustão mais alto, o que altera a forma de ignição e o tempo de queima;
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Exige maior volume para gerar a mesma energia, resultando em maior consumo.
Esses fatores podem gerar sintomas como falhas na marcha lenta, batida de pino, dificuldade de partida e aumento de consumo em carros não calibrados para essa proporção.
Economia prometida não chegou ao consumidor
Quando o governo anunciou a gasolina E30, a previsão era de redução média de R$ 0,13 por litro nas bombas.
Entretanto, o preço não caiu como esperado, e os motoristas não perceberam vantagem financeira real.
Agora, com a possível E35, o temor é de um novo ganho político e ambiental sem benefícios diretos para o consumidor.
O projeto ainda depende de análise técnica e comprovação de viabilidade mecânica, conforme determina o projeto de lei do Combustível do Futuro, aprovado pela Câmara em 2024.
Somente após validação científica e garantia de segurança aos motores o governo poderá autorizar a elevação da mistura para 35%.