Com a chegada do período de queimadas e o clima seco, motoboys e motoristas aproveitam as sombras das árvores nos semáforos para escapar do calor intenso, e isso revela o papel silencioso da natureza no caos urbano
O mês de julho marca o início do período seco do ano em Porto Velho. Com ele, aumentam as temperaturas, os focos de queimadas e a sensação de sufoco no trânsito. Mas em meio ao calor e à fumaça, um detalhe chama atenção de quem observa os cruzamentos da cidade: motoboys e motoristas de aplicativo disputam cada pedaço de sombra oferecido pelas árvores nas calçadas.
A cena é comum nos horários de pico, especialmente entre 11h e 16h. Nas esquinas onde há alguma árvore com copa larga, é possível ver motos e carros se posicionando estrategicamente sob a sombra enquanto aguardam o sinal abrir. E isso revela algo muito maior: em uma cidade quente, cada árvore tem valor funcional, não só ambiental.
Árvores e mobilidade: uma relação invisível, mas essencial
Com o asfalto quente e o ar seco agravado pelas queimadas, o calor na cidade passa fácil dos 40°C nas ruas. A sombra de uma árvore pode reduzir em até 10°C a sensação térmica, além de ajudar na qualidade do ar, filtrando parte da fuligem gerada pela combustão e queimadas urbanas.
“Tem lugar que nem banco de praça tem, mas se tiver uma árvore fazendo sombra, já vira ponto de parada dos motoboys”, comenta um entregador da zona sul.
Esse comportamento mostra que as árvores não são apenas decoração urbana, mas parte da infraestrutura que sustenta a mobilidade e o bem-estar nos grandes centros, especialmente para quem vive nas ruas em cima de uma moto, bicicleta ou carro sem ar-condicionado.
Mais árvores, menos estresse
Em vez de remover árvores para ampliar estacionamento ou “desobstruir” fachadas, cidades inteligentes apostam em mais arborização, especialmente em corredores de tráfego intenso. A natureza pode — e deve — ser aliada do transporte urbano e da saúde pública.
Porto Velho, com seus longos períodos de estiagem e exposição ao sol direto, tem tudo para transformar o verde urbano em uma política de mobilidade e resiliência.
Em tempos de queimadas, cada árvore viva se torna uma aliada no trânsito. E quem vive nas ruas sabe: a sombra não é luxo — é necessidade.