Hermano da Silva Ramos disputou sete GPs nos anos 1950, marcou pontos na categoria e chegou a integrar a Ferrari
Pouco lembrado mesmo entre os fãs de automobilismo, o piloto mais velho ainda vivo a ter competido na Fórmula 1 é brasileiro. Aos 100 anos recém-completados, Hermano da Silva Ramos, conhecido no meio esportivo como “Nano”, carrega uma trajetória pioneira no automobilismo mundial, com passagens pela F1, pelas 24 Horas de Le Mans e até pela Ferrari.
Nascido em 7 de dezembro de 1925, em Paris, Hermano é filho de pai brasileiro e mãe francesa. Criado na França, mudou-se para o Brasil nos anos 1940, fugindo dos efeitos da Segunda Guerra Mundial. Foi no Rio de Janeiro que herdou do pai, ex-piloto da Bugatti nos anos 1930, a paixão pelo automobilismo e iniciou sua carreira nas pistas.
Sua estreia como piloto aconteceu em 1947, competindo em corridas nacionais com um MG, marca britânica que hoje retorna ao mercado brasileiro sob controle da chinesa Saic. No início dos anos 1950, Hermano voltou à França, onde consolidou sua carreira no automobilismo europeu, sempre competindo sob a bandeira brasileira.
Em 1953, venceu o Rali de Sable, em Le Mans, e no ano seguinte triunfou no Torneio de Velocidade de Montlhéry, resultados que abriram portas para provas maiores. Em 1954, tornou-se o segundo brasileiro a disputar as 24 Horas de Le Mans, ao lado do francês Jean-Paul Colas, pilotando um Aston Martin DB2.
Hermano participou de Le Mans em outras três oportunidades, em 1955, 1956 e 1959, sendo esta última pela Ferrari, a bordo de uma 250 Testa Rossa da equipe oficial italiana. Segundo o próprio piloto, ao ser contratado, recebeu conselhos diretos de Enzo Ferrari: permanecer na pista e ser rápido. Apesar de vencer provas pela escuderia italiana, não conseguiu concluir nenhuma de suas participações na clássica corrida francesa.
Na Fórmula 1, Hermano da Silva Ramos disputou sete Grandes Prêmios entre 1955 e 1956, sempre pela equipe francesa Gordini. Seu momento mais marcante veio no GP de Mônaco de 1956, quando terminou em quinto lugar, conquistando dois pontos — resultado histórico para o Brasil na época.
Com isso, “Nano” tornou-se o segundo brasileiro a pontuar na Fórmula 1 e, por 14 anos, foi o piloto brasileiro com mais pontos na categoria, até a chegada de Emerson Fittipaldi, em 1970.
A carreira na F1, porém, foi interrompida precocemente após o trágico acidente da Mille Miglia de 1957, que vitimou o espanhol Alfonso de Portago e outros nove espectadores. Abalado, Hermano recusou-se a disputar o GP de Mônaco daquele ano e acabou dispensado pela Gordini.
Ele ainda competiu em provas de carros esportivos até 1960, quando encerrou a carreira aos 35 anos. Sua despedida das pistas aconteceu no Brasil, no GP do Rio de Janeiro, pilotando um Porsche RS 1500, terminando a prova na segunda colocação.
Após deixar o automobilismo, Hermano atuou por décadas nos setores audiovisual e imobiliário. Entre 2012 e 2014, foi homenageado pela organização das 24 Horas de Le Mans, entrou para o Hall da Fama da prova e participou de exibições com carros históricos ligados à sua trajetória.
Lúcido aos 100 anos, o veterano comparou recentemente a Fórmula 1 atual com a de sua época. Para ele, apesar de hoje ser muito mais segura, a categoria perdeu parte da imprevisibilidade. “Na minha época era mais divertida. Hoje, são sempre os mesmos que ganham”, avaliou.