Atraso na resposta é proposital e está ligado a regras ambientais mais rigorosas impostas pelo Proconve L8
Você já percebeu que alguns carros novos demoram um pouco para responder quando o motorista pisa no acelerador? Esse atraso, chamado de “delay”, é uma característica que vem sendo notada em modelos recentes — especialmente em marcas como Volkswagen e Nissan — e não se trata de defeito, mas sim de uma decisão técnica das montadoras para atender às normas de emissões de poluentes.
Segundo especialistas, o comportamento é definido pelo mapeamento eletrônico do motor, programado na ECU (Unidade de Controle do Motor) — o “cérebro” do carro. Esse sistema controla variáveis como mistura de combustível e ar, ignição, pressão do turbo e curva de torque, equilibrando desempenho, consumo e emissões.
“O que determina a resposta do acelerador é o acerto eletrônico para emissões. Quanto mais rígida a lei, mais o carro precisa priorizar a queima limpa, o que pode deixar o pedal menos sensível”, explica Erwin Franieck, engenheiro e conselheiro executivo da SAE Brasil.
O impacto do Proconve L8
Em 2024, a Volkswagen confirmou que seus motores 1.0 turbo receberam novo mapeamento para se adequar às exigências do Proconve L8, o programa nacional que define limites de emissão para veículos no Brasil.
A mudança reduziu as emissões do Nivus de 252 mg/km para 207 mg/km, mas provocou o “delay” percebido pelos motoristas — especialmente nas arrancadas.
Ainda assim, o desempenho geral do carro não piorou: o Nivus continua acelerando de 0 a 100 km/h em 10 segundos, segundo dados de fábrica.
O consultor técnico Pedro Scopino acrescenta que a programação mais suave também ajuda a proteger o câmbio automático: “Com uma aceleração mais progressiva, o sistema sofre menos impacto e ganha durabilidade.”
Emissões mais limpas, mas consumo igual ou maior
Embora as novas calibrações reduzam as emissões, o consumo nem sempre melhora.
Com a atualização, o Nivus teve leve aumento no gasto de combustível. Antes, fazia 8,3 km/l (etanol) na cidade e 10,1 km/l na estrada. Agora, faz 8,3 km/l e 9,9 km/l com o mesmo combustível.
Para Franieck, essa é uma consequência inevitável:
“As margens para as montadoras reprogramarem os motores estão cada vez menores. As regras são importantes, mas o governo também precisa olhar para a eficiência energética.”
O que muda no futuro
O Proconve L8 entrou em vigor em 2025 com uma fase inicial mais flexível, mas ficará progressivamente mais rígido até 2029.
Os especialistas afirmam que, para cumprir as metas futuras, as montadoras terão de eletrificar parte das frotas, seja com híbridos ou 100% elétricos.